Existem dois tipos de especificações para mapas de Orientação Pedestre:
- ISSprOM (Especificação Internacional de Mapas de Orientação – Sprint): provas de Sprint (escalas 1:4000 e 1:3000)
- ISOM (Especificação Internacional de Mapas de Orientação): restantes provas (escalas 1:15.000 e 1:10.000)
Existem pequenas mas importantes diferenças entre estas especificações de mapas. Talvez a mais importante dessas diferenças é de que no ISOM não existem elementos de transposição proibida. No entanto, no ISSprOM já existe o conceito de símbolos cuja transposição é proibida e que podem levar à desclassificação do atleta.
Por exemplo, os símbolos de “Muro intransponível” o ISOM original (em inglês) denomina-os de “Impassable wall” e o ISSprOM de “Uncrossable wall”, detalhando depois na descrição que:
- “Impassable” (ISOM) refere-se à dificuldade de transposição para um atleta de nível físico médio (referindo uma altura do elemento superior a 1,5m).
- “Uncrossable” (ISSprOM) significa que é proibido de transpor (sem referir altura do elemento)
Assim, no ISOM só as áreas privadas e alguns elementos do traçado do percursos (cor magenta) indicam proibição de atravessar. Isto porque seria utópico nas provas de floresta em áreas enormes controlar ou prever os locais onde o atleta poderia passar além de ser muito dúbio o que será intransponível dependendo muito do atleta e da direção de abordagem.
Nos mapas ISSprOM, os espaços onde se desenrola os eventos são bastante mais pequenos e controláveis. Nestas provas, cada segundo é determinante para uma competição justa, além de que o maior desafio de navegação está na rápida escolha do trajeto por entre intricadas zonas urbanas ou parques. A única forma de a competição ser justa e estimulante é com regras claras e universais.
Assim, em mapas ISSprOM existem símbolos intransponíveis que se forem transpostos os atletas são desqualificados. Por esse motivo, nas provas mais importantes existem controladores nos locais propícios a tal. De salientar que o intransponível não tem de ser obrigatoriamente um elemento difícil de transpor, pode ser assim marcado no mapa para criar uma situação de navegação mais detalhada ou porque se trata de algo desaconselhado transpor (por exemplo um monumento, um pequeno muro pintado ou flores de jardim).
Existem nos mapas ISSprOM vários símbolos que representam esta proibição, como por exemplo muro intransponível, vedação intransponível, falésia intransponível, aqueduto intransponível, sebes (verde com 30% preto – dark green), para além de casa, área privada, pântano intransponível e lago intransponível (ver no fim do artigo a lista completa destes símbolos).
Para as competições, o traçador de percursos tem por objetivo criar o máximo de possibilidades de escolha de trajeto onde, sempre que possível, o jogo com elementos intransponíveis pode fazer a diferença na perceção da opção mais rápida. Este trabalho só faz sentido quando todos os intervenientes têm conhecimento das regras. O traçador juntamente com o cartógrafo por vezes só manipulando estes fatores e testando os percursos conseguem potenciar ao máximo a sua tecnicidade. O mesmo se passa com as barreiras artificiais, ainda pouco comuns no nosso país, mas que são uma excelente forma de surpreender os atletas e mais uma vez criar mais dificuldade na análise e escolha de trajeto.
No entanto, o não cumprimento destas proibições de transposição acontece todos os fins-de-semana um pouco por todo o mundo, e faz parte do desenvolvimento da modalidade. Num mundo perfeito todos cumpririam mas, muitas das vezes não é por má-fé que os orientistas o fazem, é comum ser por desconhecimento ou por má interpretação do mapa sob o stress da competição. É bastante comum o atleta olhar para o terreno sem associar de que forma estará representado no mapa.
O mesmo se passa no atletismo na disciplina da marcha que que o atleta recebe um aviso por não estar a cumprir a técnica obrigatória, mas ele, com o cansaço, pensa que está a fazer tudo bem e acaba por ser desclassificado. Uma desclassificação não tem necessariamente de ser resultado de comportamentos intencionais por parte do atleta.
A primeira vez que esta regra foi cumprida à risca em Portugal foi nos Campeonatos Nacionais de Sprint em Penedono a 21 Junho 2014. Acompanhei de perto pois fui cartógrafo e traçador de percursos do evento. Colocamos controladores a apontar os dorsais de quem não cumprisse a regra. Houve muita discussão sobre a altura do muro se seria justo e se o percurso incentivava a sua transposição.
Neste campo, o Livelox é uma ferramenta muito útil para comprar e analisar, tal como o 3dRerun o foi durante muitos anos, e os atletas são livres de disponibilizar para todos os trajetos realizados nas provas. Não pode ser com base nesta ferramenta que se poderá desclassificar, isto porque nem todos utilizam e como sabemos o GPS tem erros de sinal ainda mais em espaços urbanos. As organizações dos eventos importantes terão de colocar elementos da organização durante toda a prova nos locais chave para anotar os infratores, só desta forma é viável a desclassificação de atletas. Mas, no meu ponto de vista, isto só deve ocorrer nos escalões de competição e só após a devida informação e sensibilização dos atletas, porque esta é a única forma de tornar as provas de orientação em espaço urbano justas e estimulantes.
A cada um de nós cabe cumprir e explicar aos nossos pares as particularidades do nosso desporto, pois mesmo sabendo que só em eventos importantes teremos meios para um controlo efetivo e justo, sabemos também que não há nada mais divertido que navegar ao máximo das nossas capacidades físicas e cognitivas.